sexta-feira, 30 de setembro de 2011

(...) Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais...







Mas aí, daqui uns dias.... você vai me ligar. Querendo tomar aquele café de sempre, querendo me esconder como sempre, querendo me amar só enquanto você pode vulgarizar esse amor. Me querendo no escuro. E eu vou topar. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo."






Tati Bernardi

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Nesse..

‎'' Nesse estado estrabico, narcotizado , magico, um estado de espirito dos amantes que , desprezados esperam ,existe algo da inconciencia dos hipenotizados ; o olhar deles tambem é como dos doentes,que , com olhar amortecido ,com abertura lenta dos cílios ,despertam do transe. Nao veem nada no mundo ,a não ser um rosto, nao ouvem nada a nao ser um nome (...) Ontem voce ainda desejava vingança ou redençao ,queria que ele telefonasse ou que precisasse de você,ou que o prendessem e fuzilassem.Sabe,enquanto voce sente coisas assim ,o outro se alegra a distancia.Tem poder sobre voce.Enquanto voce grita por vingança, o outro esfrega as mãos ,porque a vingança é tambem desejo ,a vingança é compromisso mas chega um dia em que voce acorda, esfrega os olhos ,boceja , e derrepente percebe que nao quer mais nada'' Sándor.M

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Envelhecer

 Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o sginificado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso também é velhice. Quando já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer... Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim, por partes. A seguir, de repente, começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer. E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente. Um dia acordas e esfregas os olhos: já não sabes porque acordaste. O que o dia te traz, conheces tu com exactidão: a Primavera ou o Inverno, os cenários habituais, o tempo, a ordem da vida. Não pode acontecer nada de inesperado: não te surpreeende nem o imprevisto, nem o invulgar ou o horrível, porque conheces todas as probabilidades, tens tudo calculado, já não esperas nada, nem o bem, nem o mal... e isso é precisamente a velhice.




Sándor Márai, in 'As Velas Ardem Até ao Fim'

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Amor, Você Deveria Voltar 




Olhando pela porta eu vejo a chuva cair sobre as pessoas de lutoDesfilando, num velório de tristes relações, enquanto seus sapatos se encharcam com a águaTalvez eu seja jovem demaisPra impedir que um bom amor dê erradoMas esta noite você está na minha cabeça então (nunca se sabe)







Estou acabado e faminto por seu amorSem jeito de alimentar-meOnde você está esta noite? Amor, você sabe o quanto eu precisoJovem demais pra esperar e velho demais pra jogar tudo pro alto e correr






Às vezes um homem se deixa levarQuando ele sente que deveria estar tendo sua diversãoE muito mais cego pra ver o estrago que ele causouÀs vezes um homem tem que acordar pra descobrir que, na verdade,Ele não tem ninguém...






Então eu esperarei por você... Esperarei ansiosamenteVerei seu doce retorno ou aprenderei?Amor, você deveria mudar de ideiaPorque não é tarde demais






O quarto é solitário, a cama está prontaA janela aberta deixa a chuva entrarArdendo no canto está o único que ainda sonha que te tem por pertoMeu corpo se contorce e implora por um descanso que nunca virá






E nunca acaba, dou meu reino por um beijo em seus ombros...E nunca acaba, toda minha fortuna pelos sorrisos dela quando eu dormia tão calmo em seus braços...E nunca acaba, todo meu sangue pela doçura de seu sorrisoE nunca acaba, ela é lágrima que escorre da minha alma eternamente






Talvez eu seja jovem demais pra impedir que um bom amor dê erradoOh... meu amor, você deveria mudar de ideia...Porque não é tarde demais...






Bem, eu me sinto muito jovem pra esperare muito mais velho pra jogar tudo pro alto e correrMuito surdo, burro, e cego pra perceber o estrago que causeiDoce amor, você deveria mudar de ideiaOh amor, eu estou esperando por você






Amor, você deveria mudar de ideia





sábado, 17 de setembro de 2011

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

...

Tinha vontade de vomitar, e não vomitava. Vontade de gritar e não gritava. Gentil, amável, tolerante e sem sexo, os patins dominando a lisa passarela, em gestos graciosos como os de um trapezista após o salto, mas nunca mortal a ponto de qualquer queda não ser prevista ou amparada por uma sólida rede de amenidades, e a grande merda, e o indisfarçável medo emboscado nas paredes do apartamento, e os inúteis cuidados, e a cama vazia no fundo do quarto, os dedos ansiosos, o ruído dos carros filtrado pelas paredes, a campainha em silêncio, algum livro e depois o poço viscoso. Algum cigarro, nenhum ombro, alguma insônia, nenhum toque, um último acorde de violino, e depois o sono, e depois.







(Pedras de Calcutá, in: Pedras de Calcutá)

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E lembro daquela história zen, o rei que pediu ao monge um talismã que o protegesse de qualquer mal. O monge deu ao rei um anel, com a recomendação de abri-lo só em caso de extremo perigo. Um dia, o castelo foi cercado pelos inimigos, e o rei encurralado numa torre. Ele abriu o anel. Dentro, havia um papelzinho dobrado. Ele abriu o papelzinho e leu uma frase assim: “Isto também passará”.







(Carta a Sérgio Keuchgerian. Na cidade alagada, 27 de janeiro de 1987)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

- E é aos poucos que se morre de amor, ou o mata nas entrelinhas das saudades dilaceradas e já cansadas  das voltas de quem bate a porta.

Angelina