segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

“A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não.”






- Caio Fernando Abreu.

domingo, 30 de janeiro de 2011

"Não era amor. Aquilo era solidão e loucura, podridão e morte. Não era um caso de amor. Amor não tem nada a ver com isso. Ela era uma parasita. Ela o matou porque era uma parasita. Porque não conseguia viver sozinha. Ela o sugou como um vampiro, até a última gota, para que pudesse exibir ao mundo aquelas flores roxas e amarelas. Aquelas flores imundas. Aquelas flores nojentas. Amor não mata. Não destrói, não é assim. Aquilo era outra coisa. Aquilo é ódio."


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Não desejo descobrir o que tocaste senão amarei muito mais do que se tivesse tocado. Não me fales "gosto daquilo" que já estarei gostando junto. Evite comentários. Não me digas "vamos naquele restaurante" que será mais um lugar para te esperar. Não inventes deitar na grama no domingo que o sol grudará nos dentes. Não narres aos ouvidos da cama o que podemos sentir. Não ponhas trilha no celular, não troques as almofadas, não escolhas as toalhas e os lençóis, controla essa mania de se espalhar por tudo, de botar teu cheiro por dentro de minha boca. Não abras mais o leite sem romper o lacre, não deixes a gaveta entreaberta, a torneira entreaberta, meu corpo entreaberto. Não reclames do que não fiz, que farei de novo para chamar tua atenção. Não arrumes minha gravata, que me acostumarei a pedir conselhos. Não arrumes minha gola que o vento é mesmo enviesado. Quero te conhecer menos para não sofrer depois tanto tua perda. Mas deveria ter dito isso antes.





Fabrício Carpinejar

''Discretamente, enviei sinais de socorro aos amigos. Ninguém ajudou. Me virei sozinho. Isso me endureceu um pouco mais. Não foi só você, não. Foram também pessoas até mais íntimas, (…) me virei sozinho com enormes dificuldades. Não me lamuriei. Mas preciso que as pessoas saibam que isso doeu — exatamente porque algumas destas pessoas (…) importam para mim.'''


Caio F. Abreu


(pois é né...)


Agora são os outros que esperam essas minhas ligações que não ocorrerão, e respostas de perguntas que detesto e deixo no ar, tudo porque já fui por demais pisoteada, e se num dia somos caçador, a glória de ser caça e fugir pra longe, correr veloz, chega também. Nenhum apego, isenção de afetos. Sem mais pensamentos depressivos em músicas suaves, ou vontades incontroláveis de ligar para o que um dia fez total sentido. E o melhor: ver que esse lado da moeda (ou proposta temporária de vida) pode ser algo altamente interessante. E benéfico. Que funciona muito melhor ao ego do que fazer as unhas na sexta-feira ou comprar um par de sapatos. Ou cortar o cabelo, ou escutar cinco cantadas por quarteirão percorrido.



Camila Paier





quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

"(...)haviam-se reconhecido desde o primeiro momento. Ou talvez estivessem realmente destinados um ao outro(...)" C.f. A


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

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''Ele disse que me amava. Eu me senti preenchida de algo que não era possível ser descrito, então eu comecei a me sentir assim, lisonjeada. Por alguém assim, nenhum pouco disposto de chegar perto de gente, criar um coração pra gostar de uma pessoa só. Estava com seu coração na mão agora, correndo pelas ruas. A vontade era me esnobar e dizer que alguém desse tipo, toda melindrosa... Escolheu alguém tão ninguém pra amar. Mas ninguém entenderia, então eu guardei pra mim. Com todas as qualidades que só eu enxergava nele, de tudo que eu gostava nele. Eu gostava dele por inteiro. Por mais que as características desse "inteiro" fossem impossíveis de ser apreciar. Mas, eu admirava. ''

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

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''(...) Preciso escrever depressa antes que eu me esqueça do que eu queria dizer


era isso eu preciso muito, muito de você eu quero muito, muito você aqui

de vez em quando nem que seja muito de vez em quando você nem precisa

trazer maçãs nem perguntar se estou melhor você não precisa trazer nada

só você mesmo você nem precisa dizer alguma coisa no telefone basta

ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio juro como não peço mais que o seu

silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro

lado do muro ou do outro lado. (....)''



caio fernando

domingo, 2 de janeiro de 2011

''Você vai me abandonar e eu nada posso fazer para impedir. Você é meu único laço, cordão umbilical, ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora. Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto. ''